Papai Noel escalando nevasca
Ensaios

Por que nós, os adultos, inventamos o Papai Noel?

rico machado

Essa pergunta – Por que inventamos o Papai Noel? – , muito mais interessante que a famosa “por que as crianças acreditam no bom velhinho?”, é o fio condutor do texto “O Suplício de Papai Noel”, de Lévi-Strauss. No começo dos anos 1950, na cidade francesa de Dijon, um Papai Noel foi queimado diante de duzentas e cinquenta crianças orfãs, em frente à catedral.

O texto, no fundo trata da divisão social entre os adultos, vistos como racionais e iniciados, e as crianças, aqueles seres “insensatos”, no sentido dos desprovidos de razão. O tema é recorrente e trata da divisão e hierarquização social.

É uma variação do dualismo supremo, entre os vivos e os mortos, no qual só os primeiros, porque iniciados, têm direito às decisões.

Para pensar essas questões, Lévi-Strauss faz uma genealogia de uma série de festividades pagãs, todas elas realizadas em dezembro, que confluíram, coincidentemente ou não, para a celebração natalina que conhecemos.

O Natal, nesta perspectiva, funciona como uma grande negociação entre gerações e o Papai Noel opera como essa divindade moralizadora, que dá presentes ou pune as crianças.

Esse tipo de prática, encontra ressonância nos Katchina, dos povos do sudoeste dos estados unidos. Esses personagens encarnam deuses ancestrais que voltam para dançar, punir ou compensar as crianças anualmente. mais ou menos como fazemos com nossos pequenos.

O Suplício do Papai Noel

O Suplício do Papai Noel, foi publicado em 1951, na revista Les Temps Modernes. No brasil está publicado, entre outras versões, no livro “Somos todos canibais” (São Paulo: 34, 2022) com tradução de Marília Scalzo.

Professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia - Ufob. Realizou doutorado em Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, na Linha de Pesquisa Cultura e Significação. Jornalista de formação, é mestre em Comunicação pela Unisinos, onde também realizou a especialização em Filosofia.

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