O artista contra o Estado
rico machado
Thiago Martins de Melo é um jovem artista plástico e pintor maranhense. Nascido em São Luís, Thiago apresenta uma obra impactante por seu estilo, dimensões e temática política.
Pela primeira vez no Rio Grande do Sul, o trabalho do artista ocupa o átrio e o segundo andar da Fundação Iberê.
Segundo o curador Gunnar Kvaran, o trabalho de Thiago pode ser definido como “expressionista barroco”. Há três características que expressam essa marca: as grandes dimensões, a complexidade dos temas e a sensualidade do toque da tinta, com bastante alto-relevo, nas telas.
Resistências está organizada em dois eixos. No átrio as obras são denúncias muito explícitas das diferentes violências que o Estado infringe às minorias territoriais, como os povos nativos, os descendentes de escravizados e trabalhadores rurais sem terra.
No segundo andar estão obras que mantêm o caráter crítico, mas que, ao mesmo tempo são mais contemplativas. Em certo sentido mais silenciosas.
Um passeio pelo átrio
No átrio o quadro intitulado Tupinambás, léguas e nagôs guiam a libertação de pindorama das garras da quimera de Mammón captura imediatamente nossa atenção. No topo da pintura a óleo há uma assembleia de divindades umbandistas. Abaixo, ao centro, uma coluna de fogo se estende da base até alcançar o congresso nacional em chamas. Cenas de violência e outras entidades compõem as laterais da obra.
A instalação A queima do templo do conhecimento faz referência ao incêndio no Museu Nacional, em 2018. No topo da tela, composta também por um monitor com vídeo em stopmotion, há a imagem de Dom Pedro II, o último imperador brasileiro, e, no verso, Luzia, o mais antigo crânio fossilizado.
Um andar contemplativo e crítico
Ogum Xoroquê expulsa os demônios de Caspar Plautius está localizada no segundo piso. Na composição revolucionários e divindades compartilham o mesmo espaço.
Com grande destaque está a indígena Tuíra, cuja imagem ficou conhecida na década de mil novecentos e oitenta por ameaçar o diretor da construção da Hidrelétrica da Kararaô.
À época o empreendimento não foi realizado, mas recentemente a enorme cicatriz de concreto foi erguida no Rio Xingu sob o nome de belo monte.
Por fim vale um último destaque para a obra Guerra de onças na barriga da sucuri. Emoldurada por uma enorme serpente que engole o próprio rabo, esta pintura traz no centro um totem com motosserras e cabeças decepadas. Segundo o autor, a pintura retrata o estado devorador que usa a força policial para reprimir os povos nativos.
Minha obra preferida é Escadaria do decapitado. No seu topo os olhos do Grande Espírito Jaguar e na base uma representação dos indígenas Darien, que ao saberem da sede dos espanhóis por ouro torturavam os invasores despejando ouro derretido em suas bocas.
Exposição Resistências, Fundação Iberê
A exposição Resistências de Thiago Martins de Melo segue até o dia 28 de janeiro na Fundação Iberê, em Porto Alegre. Então corre lá que está acabando.
O local fica aberto ao público de quinta a domingo, com ingressos a R$ 20. Na quinta-feira a entrada é gratuita. O horário de entrada ao museu é das 14h às 18h.
Conheça o trabalho deste jovem artista em www.thiagomartinsdemelo.com.br.